terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Opinião - BBB12



Opinião: BBB12

[Patricia Montenegro]





Tenho recebido vários e-mails com uma Petição Publica para ser assinada para a retirada do programa BBB12 do ar.


Não gosto do programa. Não assisto. Não condeno quem gosta e quem assiste. Todos nós somos temos o livre arbítrio de escolha.


Quem está participando do programa está lá porque deseja e concorda com as regras e faz as próprias regras. Ninguém foi induzido a erro ou obrigado a ficar mais de 70 dias em uma mansão desfrutando de muito sol, piscina, academia de ginástica, festas com muita comida e regadas a bebidas diversas.


Inversão de valores? Sim. Vaidade ao extremo? Sim. ‘Brigas e disputas’? Sim. Mas não são essas as regras do jogo? É o vale tudo em busca do premio de 1.500.000,00 [Hum milhão, quinhentos reais]


Ou para alguns momentos de fama pós BBB.


E se o programa está em sua 12ª edição é porque é sucesso e dá um retorno financeiro muito grande.


Isso é fato indiscutível. Portanto acho perda de tempo e até mesmo demagogia e puritanismo a tal petição e seus argumentos.


Vivemos no Brasil da corrupção, da fome, do abando, do roubo, da pobreza, do descaso das autoridades diante do seu povo. Não seriam esses motivos mais dignos para o povo se unir em debate para mudanças? Não seriam esses motivos mais justos para serem criadas petições publicas?


Daqui a 70 dias o ‘famigerado’ BBB12 sairá do ar e em alguns dias será passado.


Mas os problemas de um Brasil abandonado estarão mais vivos ainda e presentes na vida da maioria da população.


Os motivos alegados na Petição Popular para a retirada do programa do ar são:






1) Divulga e promove desde suas etapas de pré-seleção de seus candidatos e durante sua programação, a ética da exclusão






E o que o povo brasileiro vive desde o nascimento não é na verdade uma seleção entre ricos que tudo podem e pobres sem direito a nada?






2) Promove e privilegia a mulher-objeto, fazendo com que suas participantes femininas sirvam tão somente de objetos de voyeurismo sexual de suas audiências;


E o que vemos desde que o mundo é mundo não é isso? Não é somente no BBB que o machismo e a figura da mulher objeto aparecem. Cabe a mulher se posicionar na sociedade. Sem falar que em certos Países como os mulçumanos as mulheres – sem escolhas – são submetidas a todos os tipos de humilhação. Sem poder mostrar o rosto e o pior elas são mutiladas sexualmente. Isso sim merece um protesto.






3) Incita e dar a entender que “pelo jogo” vale tudo, atentando contra todo tipo de ética estabelecida para as boas relações, no que diz respeito às conquistas de oponente;






Falar em ética em um País em que vale tudo para se dar bem onde deputados fazem ‘acordos e propinas’ parece brincadeira de criança.






4) Ajuda a alimentar a alienação da população com a sedução da ilusória participação telefônica;






Copa do Mundo, Olimpíadas e tantos outros eventos também são criados para alienar um povo já anestesiado pelo sofrimento e descaso do governo.






5) Não ajuda na formação de um povo consciente e cidadão de bons costumes e de boa índole.






Lamentavelmente em um País em que a educação e a saúde são tratadas com descaso total não pode mesmo ter um povo consciente para ser capaz de exigir seus direitos como cidadão






Temos problemas reais e graves em nosso País para nos preocuparmos que dizem respeito ao futuro dos nossos herdeiros do que um simples programa temporário de televisão.


E no mais se esse programa diverte de alguma forma as pessoas que deixe seguir. Quem está lá sabe o porquê e para que.


Vamos nos preocupar e pensar em coisas sérias e que façam realmente a diferença.










Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 2012

terça-feira, 24 de maio de 2011

Uma voz na multidão




Uma voz na multidão
[Patricia Montenegro]


Professora Amanda Gurgel pequenina na estatura e gigante na determinação, força e coragem. Uma voz que ecoa em protesto as péssimas condições da educação no Brasil.
Amanda Gurgel é professora da rede estadual de ensino no Rio Grande de Norte e não se calou ou acovardou diante de deputados em uma audiência publica no senado deste estado. Ela não se calou. Eles, os deputados, sim.
Muito bem articulada, convicta das próprias idéias, coerente e determinada ele defende, como uma ‘leoa’, as melhores condições para o ensino crítico no Rio Grande do Norte e também no restante do País.
Alertou para as péssimas condições que começam nas escolas sem condições estruturais de receber os alunos. São janelas quebradas, portas arrombadas e falta de banheiros. Faltam cadeiras, mesas, lousas, giz e até profissionais do ensino. Falta merenda escolar e até mesmo água. Como abrigar crianças em locais assim? Locais que deveriam ser seguros, mas não são.
Condições essas que não são desconhecidas, mas que são caladas, escondidas, camufladas, escondidas debaixo do pano ou simplesmente ignoradas por ‘não ser interessante’ aos bolsos dos governantes.
A educação no Brasil há muito tempo pede socorro e agoniza. Mas muitos preferem calar a voz diante de tal situação.
Mas a corajosa Professora Amanda Gurgel [Uma nordestina que não nega a raça – é ‘arretada’] não o fez. Fez ecoar sua voz determinada e forte diante de senadores com salários milionários e bonificações astronômicas. Diante inclusive da secretária Bethania Ramalho que fazia seu discurso numérico ela apresentou seu minguado contracheque de R$950,00. Uma vez que se falava tanto ‘em números’.
E com sua forte presença conseguir calar a voz desses senadores por instantes e o plenário ficou em silencio diante da sua voz solitária.
Em um País que deseja sediar eventos esportivos tais como - a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 - é vergonhosa a vista grossa que as autoridades fazem diante de necessidades tão básicas – como a educação- que o País necessita e está a deriva. Haja maquiagem para disfarçar tanta hipocrisia e descaso.
Parabéns Professora Amanda Gurgel! Não cale a sua voz diante de um Brasil que precisa de pessoas corajosas como você. De Professoras como você!
Ainda existe esperança. Uma luz no final do túnel. Que outras vozes se unam a sua.




Rio de Janeiro, 24 de maio de 2011.





P.s O vídeo já está na internet como no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=yFkt0O7lceA&feature=share

sábado, 19 de fevereiro de 2011

A Bandeja de Doces



A Bandeja de Doces.
[Patricia Montenegro]



O ano era o de 1927. A cidade era Manaus. Uma Manaus onde existia a tradição e a força política.
A casa era de um Desembargador, de grande competência, com uma carreira política proeminente.
Uma casa grande, confortável e decorada com o bom gosto europeu de um exigente descendente de alemães.
Viúvo, elegante e rigoroso ele controlava a educação de seis filhos, com idades variando de 6 a 16 anos com a ajuda da fiel Antonia. Mas que uma governanta, uma segunda mãe, que ajudava a controlar 3 meninos e 3 meninas levados e cheios de vigor.
Era uma noite amena de final de maio e todos haviam terminado o jantar a um pouco mais de uma hora.
O Desembargador como de costume se recolheu à biblioteca onde costumava degustar um licor lendo um bom livro ou relendo um dos tantos processos em curso à espera de uma decisão.
As crianças estavam na sala de estar cada uma entretida em seus próprios afazeres.
Quando bateram à porta. Antonia se encaminhou a atender seguida pela caçulinha Zillah, uma lourinha espevitada de brilhantes olhos azuis violeta.
Era um motorista elegantemente uniformizado. De quepe e luvas. Carregava uma grande e linda bandeja repleta de doces. Os mais variados e saborosos doces caramelizados distribuídos em uma bandeja lindamente decorada.

-Boa noite, senhora, disse o educado motorista, vim aqui entregar essa bandeja de doces.


Zillah logo arregalou seus olhinhos brilhantes e disse:


-Oba!! Doces!!


Antonia disse à menina: não querida, isso não é para nós.


-Desculpe-me meu senhor, mas deve haver algum engano essa bandeja não é para cá. Nenhuma encomenda foi feita. Disse Antonia.


- Desculpe-me a senhora mas é sim. Devo entregá-la sem falta hoje e já estou atrasado.


-Meu senhor verifique bem o nome do destinatário..


-Disseram-me apenas: entregue na casa do Desembargador que ele está esperando.



A essa altura uma algazarra já se fazia presente. Cada qual emitindo sua opinião. Impossível entender qualquer coisa.


Zillah dizia:


-Deixa..Antonia..deixa...


Aloísio, de 13 anos, muito guloso logo quis pegar a bandeja.


-Calma, menino! Temos que verificar isso.



Atraído por tanto ruído, vozes e risos o Desembargador saiu da biblioteca para saber o que estava acontecendo.




- Posso saber o que está acontecendo aqui?




Antonia explicou então a situação.




-Boa noite, Desembargador estou aqui para entregar-lhe essa bandeja de doces, disse o jovem motorista.


-Boa noite, meu jovem, mas creio que haja algum engano, pois não foi feita nenhuma encomenda.


-Meu Deus! O senhor quer que eu perca meu emprego? Tenho família para sustentar! Se não entrego esses doces perderei meu emprego.




Maria, a mais velha, resolveu então dar sua opinião.


-Quem sabe papai, não foi presente de alguém? Nessa época de eleição tudo é possível.


-Mais um motivo para não aceitar. Não sei quem possa ter me mandado isso.


-Pelo amor de Deus o que faço? Perguntou o pobre motorista segurando a bandeja. Já suando em desespero e tremendo pelo peso da bandeja.




Depois de verificado que não havia remetente e já que o rapaz tanto insistia...




-Está bem meu jovem, não serei eu o responsável pelo seu desemprego. Pode entregar-me a bandeja.


O jovem suspirou aliviado, recebeu uma gratificação, e se foi com a sensação de dever cumprido.
Antonia colocou então a bandeja sobre a mesa da sala de jantar.
Por alguns minutos um silêncio tomou conta da sala. E todos os olhares se voltaram para o Desembargador. Esperando um pequeno sinal de autorização...
Então...


-Certo, crianças já que alguém decidiu nos ofertar a sobremesa de hoje..vamos lá!




Foi um verdadeiro ataque à bandeja. Imagine 6 crianças como formigas em volta de uma bandeja com os mais deliciosos doces.
Até mesmo o Desembargador apreciou o seu saboroso doce.
Logo só havia papeis e resto de açúcar sobre a bandeja.
Não demorou trinta minutos para que voltassem a bater na porta.
Um motorista agora pálido e assustado disse:


-Desembargador...queira me perdoar..mas..


-Mas..? Perguntou o Desembargador..


-Houve um pequeno engano e a bandeja de doces era para ser entregue na rua ao lado.


-Não diga! Mesmo?


-Sinto meu jovem, mas agora é tarde. E não foi falta de avisar.


-Mas e os doces?? Perguntou aflito?


-Os doces? Bom meu jovem. Com seis crianças em casa acho que pode imaginar o destino de cada um desses deliciosos doces.


-O que faço agora? Perguntou assustado.






O Desembargador então se dirigiu à sala apanhou a bandeja, agora vazia, e devolveu-a ao motorista.-


-Leve a bandeja. Explique o ocorrido.


-Mas serei demitido..e..


-Meu jovem você já está encrencado. Mas sei que no fundo a culpa não é de toda sua.


O Desembargador então se dirigiu à biblioteca e redigiu uma pequena carta e pediu que fosse entregue junto à bandeja na devida casa.


-O que diz aqui??? Perguntou aflito.


- Que os doces estavam maravilhosos que adoraria conhecer tão competente doceira.


- Mas...


- Calma rapaz..digo também que arcarei com o valor gasto que não se preocupem. Mas em relação aos doces da festa nada posso fazer. Pois hoje a festa foi aqui.


- Uma boa noite para você rapaz.




Assim terminou aquela noite de maio. Adoçada pelo destino.













terça-feira, 20 de julho de 2010

Dia do Amigo


Dia do Amigo
[Patricia Montenegro]


Hoje comemoramos o dia do amigo. Mas na verdade todos os dias são,ou deveriam ser, dias do amigo. Do amigo verdadeiro, aquele que está presente em todos os momentos de nossas vidas.
Está tão presente que às vezes esquecemos de dizer como eles são importantes em nossas vidas.
Os amigos são conquistados. E que nobre e valiosa conquista.
É como diz, mais ou menos, a canção de Milton Nascimento: “Amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito debaixo de 7 chaves”. E devemos guardar muito bem. Pois um amigo é uma jóia rara.
O amigo é o irmão; é o pai que escolhemos. Amigos são presentes de Deus. Os verdadeiros amigos são para sempre. Não existindo tempo ou distância capazes de enfraquecer esse sentimento tão nobre que é a amizade.
Amigo é aquele que está sempre pronto para nos escutar.Que nos estende a mão nas horas difíceis. Que está presente mesmo quando fisicamente ausente.
Um amigo verdadeiro fica feliz com a sua felicidade e com o seu sucesso. Ele compartilha com você.
Um amigo entende o nosso silêncio e ainda que não digamos nada sabe quando estamos sofrendo e se fazem presentes. Com um gesto, um olhar ou uma palavra.
Amigos choram e riem juntos. São fieis e solidários. Não criticam ou julgam. Aceitam.
O sorriso franco de um amigo tem o poder de nos fortalecer.
O abraço forte que nos transmite tanta força e energia.
Com os amigos dividimos sonhos, alegrias e sucessos.
Como definir algo tão importante como um amigo?
Não há definição que faça justiça a esse sentimento que vem da alma.
Não importa a quantidade de amigos que tenhamos e sim a qualidade.
Portanto hoje diga a seus amigos como eles são importantes em sua vida. Telefone; encontre ou procure por ele, mas faça alguma coisa para que ele saiba que você gosta tanto dele como ele de você.
Que no dia de hoje você possa compartilhar com seus amigos toda a alegria pelo simples fato de vocês existirem.
Amigo..obrigada por você existir..!!



Rio de Janeiro, em um tempo qualquer, sem datas , horarios, sempre

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ilusão Terminou [E não foi surpresa]



Ilusão Terminou [E não foi surpresa]
[Patricia Montenegro]

É isso! Seleção Brasileira foi desclassificada. Hora de voltar para casa e de voltarmos a nossa realidade[que é bem difícil e dura] e seguir a vida em frente. Voltar ao mundo real.
Terminou o sonho, a ilusão e a vontade de acreditar no bom futebol.
Eu apesar de não entender nada de futebol não confiava, acreditava ou via a nossa Seleção como campeã.
Infelizmente sei que existem muitos interesses econômicos, políticos, comerciais e individuais envolvidos em uma Copa do Mundo.
[E já vimos esse filme antes não é?]
Uma boa Seleção de futebol – para representar seu País – não é feita de ‘estrelas’ solitárias. De egos ressaltados. De brilho pessoal. Uma seleção é feita de equipe. De jogadores que estejam voltados para um mesmo objetivo. Uma seleção é feita de garra, vibração, patriotismo, vibração e inteligência [frieza] nas horas necessárias.
É preciso ter equilíbrio não somente técnico, mas emocional para lidar com as situações que surgem em uma partida de futebol.
É preciso ter um técnico que saiba lidar com todas as situações e aja e reaja na hora certa.
Infelizmente não vimos isso no nosso técnico Dunga que se preocupou demais em brigas pessoais ao invés de perceber a fragilidade que a seleção demonstrava.
Nossa seleção sempre se mostrou instável técnica e emocionalmente.
O fator sorte ajudou a classificar a nossa Seleção para essa etapa. Nossos primeiros adversários, verdade seja dita, não eram fortes e mesmo assim não podemos dizer que vencemos com facilidade.
Não pensem que eu torci contra a Seleção Brasileira. Não é isso. A cada inicio de uma nova partida meu coração bateu mais forte e torci para que nossa seleção vencesse apesar de tudo.
Apenas não consegui acreditar na nossa seleção. Não senti força. Raça. Determinação. Muitas vezes senti apatia e não seria realmente justo que ela chegasse à final com o fator sorte.
Perdemos. Isso é fato. E quem sabe tenhamos merecido essa derrota para que possamos consertar e aprender com os erros e assim chegar com merecimento a Copa de 2014 que por sinal será sediada pelo Brasil.
Agora é hora de levantar a cabeça, enxugar a lágrima, sacudir a poeira e dar a volta por cima e seguir em frente. Hora de dar o exemplo para o futuro.
Que nessa Copa do Mundo vença a seleção que demonstrar o futebol limpo [sem política e/ou interesses comerciais] o futebol arte, raça, mágico que encanta e entusiasma.
Sou uma brasileira que torceu pela sua Seleção, mas que tem a consciência de que não tínhamos condições de vencer essa Copa.
Sou uma brasileira que tem saudades de um tempo que não viveu quando o futebol era realmente um jogo de futebol.
Agora: bola para frente!


Rio de Janeiro, 02 de julho de 2010- 16h24min

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Saudades da Bahia


Saudades da Bahia
[Patricia Montenegro]

Hoje amanheci com um gosto de saudade dentro de mim. Saudade de uma pequena parte da minha infância vivida na Bahia. Foi pouco tempo. Dos 3 aos 5 anos. E nessa fase da vida não temos uma memória completa. [A minha pelo menos] Portanto é uma saudade feita de ‘flashes’ porém não menos marcantes.
Nessa época meu pai militar da aeronáutica foi transferido para Salvador. Moramos em duas casas a primeira que pouco me recordo em Ondina e a segunda da qual tenho mais recordações na Barra.
Para uma criança pequena morar em uma casa é um presente. A sensação de liberdade é enorme. Foi lá que comecei as minhas primeiras brincadeiras de criança e fiz meus primeiros amiguinhos. Tanto na escola como os meus vizinhos. Um casal de irmãos, filhos de militares também, que eram meus melhores amigos.
Uma das coisas que mais me recordo de Salvador era o céu azul e límpido. O clima sempre agradável o que me possibilitava idas diárias a praia. Eu nem me importava com a hora da chuva. Tornou-se uma brincadeira fugir da chuva e depois de alguns minutos voltar a brincar na praia com o sol a nos brindar.
Lembro a primeira vez que cismei que tinha que comer um acarajé, que adoro até hoje, e lá fui eu de mãos dadas com minha mãe até o verdadeiro tabuleiro da baiana. Ela toda de branco, roupa limpa como a nuvem, tabuleiro todo arrumado, um convite à degustação. Ela então me olhou e perguntou: ‘quente’ ou ‘frio’? Na minha cabeça de criança carioca é claro que eu queria quente! E respondi com a maior segurança, antes que minha mãe pudesse intervir quente!
Bom quando mordi o acarajé descobri que o quente realmente fazia esquentar, mas por causa da pimenta! Foi a minha primeira lição. Cheguei a conclusão que o ideal era o acarajé ‘morno’.
Eu morava em uma casa confortável. Não era grande. Mas tinha um belo jardim na frente e um quintal nos fundos.
O quintal dos fundos da casa era onde eu brincava com o meu jipe verde. Fazia minhas manobras que me levavam a lindas viagens imaginárias. Eu não tinha muitos brinquedos. Mas o meu jipe me bastava. Era uma infância saudável sem essa loucura de vídeo games de luta de hoje em dia.
Na frente da casa tinha o jardim. Onde imperavam três belos coqueiros. Eram os ‘meus amigos’ especiais. Gostava de contar para eles as minhas aventuras, sonhos e medos. Eu achava que seus cocos eram seus filhos. E de uma certa forma eu não estava errada.
Pode parecer estranho conversar com coqueiros, mas na cabeça de uma criança existe lugar para a fantasia. E eu gostava de sentar em frente a eles (embaixo minha mãe não permitia, dizia que um coco poderia cair na minha cabeça) e mostrar meus desenhos, meus deveres da escola e contar para eles o meu dia. Era com eles que ficava quando estava triste também. Eles faziam parte da minha vida.
O dia festivo era o dia da coleta dos cocos. Os coqueiros ficavam repletos. E lembro da fila que se formava em frente a nossa casa para a distribuição dos cocos. Eu ficava feliz em ajudar a entregar os cocos e com a felicidade das pessoas.
Eu ficava feliz também porque sabia que naquele dia teria doce de coco! Como era gostoso. E beber a água de coco fresquinha.
Tenho saudades dos meus três amigos coqueiros.
Quando voltei há algum tempo a Salvador me deu uma certa nostalgia ver que a casa já não existia mais e nem meus amigos coqueiros.
Mas a imagem que quero guardar é a dos meus coqueiros firmes e fortes a me fazer companhia.
Essa casa foi testemunha de algumas peripécias minhas. Como a do gato que recolhi na rua e convenci a minha mãe a ficar com ele. Foi um longo discurso. Mas consegui fazer com que o gato ficasse. Depois de um bom banho e uma tigela de leite ele ficou forte e bonito. Batizei-o de marronzinho por causa da sua cor.
Marronzinho era um gatão fujão. Vivia dando suas escapulidas e me assustando. Mas acho que ele gostava da casa e de mim e sempre voltava. Ele ficou comigo até eu voltar ao Rio. Deixei-o com meus amiguinhos da casa em frente.
Outra saudade foi quando no final do ano no jardim de infância a escola presenteou todas as crianças com um pintinho. Lindo! Peludinho e amarelinho. Alegria geral das crianças e desespero das mães. Mas eu não abri mão de levar o amarelinho, nome com o qual batizei-o, para casa. Tivemos que arranjar uma gaiola para colocar o pinto e protege-lo do gato. Durante um tempo eles foram amigos. Mas um dia o pintinho sumiu. E apesar de não terem me contado, acho que o instinto do gato falou mais alto e ele matou o pintinho. Chorei muito. Mas passou. Afinal eu tinha um mundo de sonhos para viver.
Foi uma época feliz da minha vida. Foi um tempo tranqüilo em que eu vivia com uma certa liberdade de poder brincar nas ruas .Correr livremente sem medos.
Saudade das visitas ao farol da Barra.
Saudades dessa terra gostosa e amiga que é a Bahia que me acolheu em seus braços com tanto amor e simpatia do seu povo amigo.
Olho para trás e ainda vejo a criança inocente, de olhos brilhantes, sentada no muro da casa esperando o seu pai voltar do trabalho ou o baleiro e seu carrinho passarem.
Vejo a menina brincando com seu jipe e conversando com seus coqueiros..
Hoje amanheci assim..com saudades da Bahia, da minha infância e com saudades de mim...

Patricia Montenegro
26-05-04 – 18.05 horas.

domingo, 6 de junho de 2010

Triste Realidade


Triste Realidade
[Patricia Montenegro]

Hoje aconteceu uma grande festa. Um grande e bizarro espetáculo, onde certamente o povo brasileiro, não foi convidado. Apenas assistiu como penetras, a grande festa, enquanto seus convidados, recebidos pelo Senador Renan Calheiros, se divertiam e riam diante da certeza da impunidade em uma terra de ninguém chamada de Brasil.
Um 'julgamento' de cartas marcadas onde o resultado já era esperado e certo.
O dia começou com um triste espetáculo onde os deputados e seguranças se esbofeteavam nos corredores do Plenário na tentativa de participar da 'festa'.
Depois de muitos gritos, protestos, palavras de ordem, as portas do plenário foram fechadas; microfones desligados, câmeras apagadas, laptops e celulares foram barrados na festa, tudo para manter o 'sigilo' e tornar licito o julgamento.
Por que as portas fechadas, voto secreto, barrar jornalistas, quando já se sabia o resultado final?
Proteger a quem? Nós, o povo brasileiro, certamente não.
Triste espetáculo.
Não cabe repetir os fatos já tão vergonhosos, sabidos e repetidos a exaustão. A gravidade dos fatos não está na vida particular de quem quer que seja; não está em casos extra-conjugais, filhos fora do casamento ou no fato da namorada Mônica Veloso estar nas paginas das revistas masculinas. Não...isso já é sabido e não cabe a nenhum de nós julgar.
A gravidade está na forma como tudo foi e é feito. A gravidade é usar dinheiro alheio para arcar com as próprias responsabilidades. É o desvio de verbas. É o roubo 'descarado'.É tudo terminar em uma grande pizza com sabor amargo e vergonhoso.
É a triste realidade que vivemos. É a impunidade gritante, é o povo brasileiro sendo feito de bobo. É a imagem de um Brasil desacreditado e entristecido.
É o Brasil das diversas cores vestido de negro em luto com a sua história.
Ah..o nosso Presidente Luis Inácio Lula da Silva? Ah..muito ocupado passeando de carruagem na Suécia...sob aplausos no mundo do faz de conta...
Só sendo Maluco Beleza...como dizia nosso Raul Seixas...para sobreviver no Brasil...

Rio de Janeiro, 12-09-07